Ócio criativo

Compartilhe:

Quais os benefícios para as crianças em ‘fazer nada’?

Ócio criativo, crianças, psicanálise

Senhores pais: as crianças precisam de pausas – e de ‘fazer nada’ –  para estimularem a criatividade, consolidarem aprendizados e encontrarem soluções por si mesmas.

O sociólogo Domenico de Masi, sem dúvida, é o maior embaixador do “dolce far niente” e da teoria que prega a importância do tempo livre e da criatividade em contraposição à cultura da idolatria do trabalho, da competitividade e da atribulação. O italiano também defende que os modelos sociais elaborados pelo Ocidente, sobretudo pelos Estado Unidos, deveriam “privilegiar a satisfação de necessidades radicais, como a introspecção, o convívio, a amizade, o amor e as atividades lúdicas” como explica em sua obra mais conhecida,  “O Ócio Criativo”. 

Porém, mesmo que já disseminada, sua teoria ainda é controversa – sobretudo quando é aplicada à educação de crianças e adolescentes. Que pai ou mãe nunca se angustiou em ver o filho “fazendo nada” e logo o mandou “fazer alguma coisa”, como se a pausa fosse algo absolutamente improdutivo e inaceitável. Puro engano. De acordo com Mary Helen Immordino-Yang, neurocientista e pesquisadora do Instituto do Cérebro e da Criatividade da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, em um artigo publicado pela BBC“Esse tempo de ócio te ajuda a reconhecer a importância mais profunda das situações. Ajuda a entender o significado das coisas. Quando você não está dando significado para as coisas, está apenas reagindo e agindo no momento, e você estará sujeito a muitos tipos de comportamentos e crenças cognitivas e emocionais não apropriadas para o ambiente”. Por isso, tão importante as crianças também terem esses momentos de reflexão e inatividade física, para que a parte do cérebro que é ativada quando não fazemos nada – conhecida como rede neuronal em modo padrão – possa agir e consolidar a memória e a visão do futuro. É essa também a zona do cérebro que ativamos quando observamos outros indivíduos, pensamos sobre nós mesmos, fazemos julgamento moral ou processamos as emoções de outras pessoas. Ou seja, competências essenciais para a vida. 

Para Patrícia Fraia, psicanalista do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, “todos nós precisamos ‘fazer nada’ para criar –  não só criar algo mas principalmente criar-se a si mesmo, recriar-se.  Você pode aproveitar o momento em que as coisas estão muito diferentes, onde tudo está mudando para poder tempo de se criar, de se reinventar. Precisamos de pausa para ter liberdade interna de criação. Isso é incrível.”

Ila Brognoli, terapeuta maternal e mãe de Laura (5) e Elis (3), sabe disso e tenta cultivar esse princípio dentro de casa. “Acredito muito na importância do ócio, da pausa, do tédio, da necessidade de não estimular intencionalmente as crianças a ocuparem o tempo todo e, assim, darem espaço à criatividade. Mas isso não é simples. Nossa geração de pais não está acostumada a lidar com o “fazer nada”. Quando percebo que as meninas estão entediadas, faço o convite para “então, faça nada!”. Vejo a agonia delas procurando uma atividade e tento mostrar que o tédio faz parte e é importante – e observo o que sai disso. Não acho que cabe aos pais encontrar soluções para entreter as crianças. Sentar na rede e ouvir passarinho é tão importante quanto montar um quebra-cabeça.”

Confira, a seguir a entrevista na íntegra com Patrícia Fraia sobre como respeitar – e até incentivar – o ócio na rotina das crianças.  

– Qual a importância do “fazer nada” para crianças e adolescentes?

Total. O silêncio fala, nos fala. Ter a capacidade de escutar o silencio é mágico, simbólico, poético e muito produtivo. Tenho trabalhado muitos com os pais a necessidade de não fazer uma rotina muito rígida com crianças ou adolescentes para darem espaço para o  ‘fazer nada’ e dar espaço para arte, cultura, música, dança, desenho. Para que eles, espontaneamente, se levem pelo silêncio. 

Isso ainda é muito difícil, principalmente para os jovens, que estão muitos acostumados a fazer muita coisa o tempo inteiro. A agenda sempre é muito atribulada e de repente se vêem em casa com tempo livre para estar com eles mesmo ou estar em família – o que não estavam mais acostumados. E algumas vezes não há assunto. O silêncio que impera em algumas famílias é um silêncio incômodo.

Artigo na íntegra

Compartilhe:

As crianças e o medo das máscaras: como lidar?

Compartilhe:

O termo em inglês “maskaphobia” vem sendo usado para definir um comportamento cada vez mais observado em crianças: o medo da máscara, acessório tão comum em tempos de coronavírus. Saiba como identificar e lidar com esse problema.

Os tempos andam sombrios e às vezes parece que estamos dentro de um filme de ficção científica, não é mesmo? Vírus solto pela cidade, pessoas isoladas, desinfetantes por toda a casa, pessoas com medo de se encostar, luvas, gel….. e máscaras – muitas máscaras. Nunca imaginaríamos esse equipamento de proteção pessoal – até então usado apenas por profissionais de saúde – virasse um acessório indispensável na nossa nova rotina com o coronavírus. Elas são diferentes: azuis, floridas, de bichinho; tem filtros ou não, cirúrgicas e esquisitas ou estilosas e até mesmo de luxo.

Mas, independente do estilo ou do apelo estético desse acessório, ele pode causar medo e ansiedade em muitas pessoas – principalmente nas crianças, que não estavam acostumadas a ver as pessoas na rua – muito menos seus pais e irmãos, dentro de casa – usando-as. Para isso, já existe um nome: a “maskaphobia”, um termo em inglês para definir um medo que já existia antes – principalmente no Halloween, quando muita gente se fantasia – mas que vem sendo cada vez mais recorrente entre muitas famílias com crianças pequenas. Para ser considerado uma fobia, os especialistas esclarecem, o medo deve durar mais de seis meses.

Segundo Kang Lee, professor de psicologia aplicada e desenvolvimento humano da Universidade de Toronto, em entrevista ao The New York Times, o medo surge por conta da incapacidade dos pequenos em ler e reconhecer as expressões faciais da pessoa mascarada. As máscaras, na visão deles, distorcem a aparência da pessoa, fazendo ela parecer estranha e isso pode ser assustador. A capacidade de reconhecer a estrutura de um rosto inteiro, mesmo que coberto, começa aos 6 anos. Mas, de acordo com Dr. Lee, apenas aos 14 eles atingem o nível de um adulto em reconhecer os traços da face.

No Brasil, ao que tudo indica, a “maskaphobia” não parece ainda ser um problema alarmante. A psicanalista Patrícia Fraia, que atende crianças e adolescentes em São Paulo, diz que ainda não percebeu um número relevante de casos de fobia de máscaras no seu consultório ou uma pauta recorrente nos grupos de discussões dos quais participa. Mas explica: “A fobia de máscara tem a ver com as fantasias da criança e o medo do desconhecido, do inominável. Quem é esse estranho que está falando comigo e eu não reconheço?”

Como tratar?

O que fazer, porém, caso seu filho manifeste um medo exagerado das máscaras? Catherine J. Mondloch, professora de Psicologia e diretora do laboratório de percepção facial da Brock University diz: “Se os pais precisam usar máscaras, tente coloca-la e retirá-las várias vezes, para a criança ver que o pai ainda é o pai, nada mudou”. Crianças com autismo, déficit de atenção, hiperatividade e ansiedade social podem ser ainda mais vulneráveis nesse momento. Outra recomendação é, se você estiver usando máscara, sempre explicar para a criança o motivo. O Dr. Harold Koplewicz presidente do Child Mind Institute, sugere: “Acho importante explicar às crianças que usar máscaras é um jeito de ajudar os outros e não algo que seja “perigoso”. As crianças devem ver isso como um ato de responsabilidade social, e pode ser comparado a lavar as mãos, ou algo que você faz para manter-se seguro, mas também para proteger os outros.”

Leia o artigo completo: https://familycenter.com.br/as-criancas-e-o-medo-das-mascaras-como-lidar/

Compartilhe:

Distanciamento social não significa isolamento social

Compartilhe:

A hora é de ficar em casa. Mas isso não quer dizer pra deixar de ver a família e conversar com os amigos – pelo contrário: com um pouco de esforço e muita criatividade, podemos aprofundar relações, estreitar laços e manter nossa vida social ativa e feliz.

Nas últimas semanas, temos vivido uma realidade que tem testado – ao extremo –  nosso poder de adaptação e, muitas vezes, aumentado nosso medo e ansiedade. E isso pode ser ainda mais acentuado nas mentes das crianças: afinal, proteger-se de um vírus, invisível e alastrador não é fácil para ninguém, sobretudo para os pequenos. A ideia de uma doença solta pela cidade matando milhares de pessoas no mundo pode ser assustadora – então, é fundamental ajudarmos nossos filhos e alunos a lidarem com suas inseguranças e manterem a saúde mental.

Um dos pontos principais – e mais desafiadores – dessa quarentena é estarmos fisicamente separados. A distância física é indispensável nesse momento e a recomendação de apenas sair de casa para o absolutamente essencial continua em vigência. Mas, cuidado! Apesar de longe, temos que encontrar meios de estarmos próximos, já que em todas as cultura raças, idades e gêneros, os seres humanos tem necessidade de contato social e conexão emocional com outras pessoas para ter uma vida saudável e feliz. Por isso, é vital mantermos os laços afetivos – nossos e de nossos filhos – com o mundo exterior e colocar empenho para manter as pessoas participando das nossas vidas. Por tudo isso, alguns especialistas tem preferido chamar essa atitude de distanciamento físico – e não social.

Para Patrícia Fraia, psicanalista e membro do Instituto Sedes Sapientiae e especialista em atendimento de crianças em jovens, “É fundamental que as crianças mantenham o círculo com os amigos, com os avós e a família nesse momento. Não sabemos quanto tempo vai durar essa quarentena, e sentimos falta um do outro.  A convivência é super importante e não é porque estamos fisicamente distante que temos que estar distante emocionalmente. A presença emocional e os corações unidos fazem bem.” 

Ler o artigo completo

Compartilhe: